Iddu parla – O vulcão azul

Iddu parla – O vulcão azul

Já parou para pensar no porquê estamos onde estamos, nessa hora, nesse lugar, nesse dia? Imagine realizar uma grande aventura em sua vida, daquelas que vale a pena contar para os netos um dia, como escalar um vulcão ativo em uma ilha no sul da Itália.

Foi o que aconteceu com Thiago Takeuti, 40 anos, de São Paulo, formado em Música pela Universidade Federal de São Carlos e em Engenharia da Agricultura pela Universidade Federal de Santa Catarina. Ele é nosso convidado para este blog, onde compartilha sua história e os imprevistos que viveu. Prepare o coração e os lenços de papel, pois a história é emocionante e nos comoveu muito.

Em 2019, Thiago resolveu ter uma experiência internacional, pois estava descontente com sua situação financeira no Brasil, juntou dinheiro e partiu rumo a Portugal. O destino escolhido foi pela facilidade da língua e pelo desejo de conhecer a escola do Porto, uma referência na área musical no país, e trabalhar um tempo como educador musical.

Porém, a vida tem seus próprios planos e, logo na chegada, Thiago começou a trabalhar como artista de rua e a ganhar um dinheiro com isso, em seguida conheceu um outro brasileiro, Vinícius, que o convidou para um giro pela Europa.

Ele então refletiu um pouco e aceitou o convite, pois, se arrumasse emprego por lá naquele momento, ficaria mais difícil fazer essa viagem.

Os encontros que mudam tudo

Seguiram juntos por algumas cidades até chegarem em Turim, no norte da Itália, onde se hospedaram em uma casa com mais 2 italianos, da Sicília.

É nesse ponto que a história toma outro rumo, os italianos contaram para Thiago que havia acontecido a explosão do Vulcão Etna, em maio daquele mesmo ano, e sobre toda a beleza da Sicília, que ele não poderia deixar de conhecer. Thiago resolve então mudar a rota, e passa a descer o país até a belíssima cidade de Catânia, localizada aos pés do Etna.

Já na Catânia, se hospedou em um hostel, onde conheceu um italiano de 35 anos, Prático de Navio, e apaixonado por vulcões, Massimo, um nativo da cidade de Milazzo, ao norte da Catânia e um dos pontos de saída para as ilhas Eólias, um arquipélago formado por 7 ilhas vulcânicas no mar Tirreno.

O convite

Thiago e Massimo no início da escalada ao vucão

Massimo, contou ao Thiago que desde muito jovem escalava o vulcão Stromboli, que conhecia muito bem a trilha e que gostaria de levá-lo até lá. Thiago nunca ouvira falar desse vulcão, nem tinha intenção de subir um, porém a empolgação do italiano o convenceu, confiando em sua experiência com a ilha e o vulcão, decidiram que iriam escalar o Stromboli dali a 7 dias.

Quando o destino nos coloca onde deveríamos estar

Durante a semana que antecedeu a escalada, Thiago resolveu visitar a cidade de Palermo, também na Sicília, e por lá conheceu uma canadense que o convidou para ir encontrá-la na Tunísia. Thiago conta que conhecer o continente Africano era um de seus desejos de infância.

Alguns dias depois de conhecer a garota, ele avisou ao italiano que não iria mais para o vulcão, pois estava seguindo viagem para Tunísia, pegou o barco que faz a travessia entre os 2 países e foi. Contudo, a imigração da Tunísia o impediu de entrar no país e ele teve que retornar para a Itália no mesmo barco que o levou.

Entrou em contato novamente com Massimo e retornou aos planos originais, Stromboli.

O dia D

Foi em 03 de julho de 2019 que Thiago e Massimo embarcaram em um ferry, saindo de Milazzo e desembarcaram em Ginostra, o lado menos turístico da subida ao vulcão. 1 dia antes da escalada, tomaram o cuidado de ligar em uma agência local para saber as condições para o dia seguinte, foram informados que haveria passeio regular, que estaria tudo tranquilo.

A subida aconteceu logo que desembarcaram, animados os dois iniciaram a trilha rumo ao cume do Stromboli.

Um pouco antes de chegarem na metade da subida, o vulcão explodiu. Thiago, inexperiente com aquela escalada, achou que era algo normal, pegou o celular e começou a filmar em êxtase, a nuvem de fumaça subindo da cratera do vulcão. Massimo ao contrário de Thiago, disse que estava errado, que aquilo não era para acontecer.

Thiago então percebeu a gravidade e quis correr montanha abaixo para fugir do local, o italiano o alertou para que não corresse, pois poderiam se machucar e seria pior, a descida deveria ser feita andando pelo mesmo caminho que subiram.

Pequenas pedras começaram a cair em volta deles e, essas pedras foram aumentando de tamanho até atingirem o tamanho de um carro popular.

Massimo tinha um GPS e comunicou as autoridades da região sobre a localização deles, por isso pediu a Thiago para que ficassem parados esperando resgate.

Apesar da nossa conversa e de ter lido seu livro, ficava em mente qual seria a sensação que os dois estavam sentindo naquele momento, medo, claro, mas o que mais? Com a possibilidade de morte tão diante de seus olhos.

Algumas vezes em nossas vidas, somos colocados em situações que nem imaginamos que podemos passar um dia, situações que nos trazem respostas orgânicas as quais não sabíamos que seríamos capazes de sentir.

Thiago e Massimo resolveram sair do local que avisaram ao resgate, pois, a lava e o fogo estavam cada vez mais perto, retomaram a descida e, poucos minutos depois, notaram que não tinham mais para onde ir, o fogo tomou conta de tudo ao redor, e sem pensar, entraram de bermuda pela vegetação seca do local, arranhando-se em galhos em busca de um local seguro.

Thiago relata que entrou em modo prático, colocou a emoção de lado, observou o terreno ao redor e viu um local por onde o fogo já havia passado, seria a única saída possível, subiram mais um pouco para o local e disse ao companheiro que ali eles poderiam ter alguma chance. Massimo já não respondia normalmente a Thiago, só pediu que ele enviasse novamente a localização e em seguida caiu de costas no chão. O brasileiro puxou o italiano para o seu colo, porém com a alta temperatura do terreno, as costas de Massimo já havia sofrido graves queimaduras, e em seguida perdeu os sentidos.

Thiago em seu desespero, fez respiração boca a boca no amigo, que retomou os sentidos por alguns segundos e apagou novamente na sequência.

Massimo faleceu em seu colo.

Thiago sentiu que seu fim também estava próximo, a fumaça densa e a desidratação já o faziam sentir que em pouco tempo também perderia as forças, alinhou seu corpo ao lado de Massimo para que os dois fossem encontrados lado a lado.

A Salvação

Nesse momento um grito chamou sua atenção, em meio a fumaça, ele percebeu alguém se aproximando e lhe dando água, o que o ajudou a retomar os sentidos.

O resgate chegou em seguida e Thiago foi conduzido com segurança para a base da montanha, o corpo de Massimo foi resgatado e seu funeral ocorreu alguns dias depois.

Thiago: Eu arrisco dizer que, se ele pudesse escolher um local onde gostaria de morrer um dia, seria lá, no Stromboli. Essa história é mais dele do que minha, não sei dizer o porquê eu estava lá, mas tinha que ser eu, tinha que ser nós.

Uma francesa iria fazer parte da aventura com os dois, porém poucos dias antes ela alterou os planos.

Iddu – O Vulcão Azul

Demorou 4 anos para Thiago conseguir contar essa história e escrever um livro emocionante onde descreve como tudo aconteceu, incluindo um capítulo bônus com o relato da francesa que nos deixou arrepiado.

Uma leitura que nos convida a diversas reflexões sobre a vida e a morte, sobre destino, planos e porque estamos em determinados locais e vivemos experiências que nos transformam para sempre.

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Agradecemos a generosidade de Thiago em se abrir assim para nós e nos contar essa emocionante história.

Eu, André, escritor e nômade, já escalei um vulcão ativo e, no dia que atingi o pico, um vulcão no mesmo país, porém muito distante de mim, entrou em erupção, de qualquer forma fiquei sabendo na mesma hora e não pude deixar de pensar que aquilo poderia ter acontecido ali, no Mont Batur em Bali.

Espero que tenha gostado e se emocionado com essa história tanto quanto eu, Fernando D’Jiovanni, e Marcela Andreta, (governança e  Marketing) ficamos.

Essêntir Viagens.